Na cozinha nada se perde, tudo se transforma


 

    Há 4 anos moro sozinha e, quando a mudança aconteceu, apesar de já trabalhar na área da alimentação, eu não tinha a menor ideia de como iria organizar minha rotina. Eu mal sabia cozinhar!

    Como era feito na casa dos meus pais, aqui eu continuei seguindo o hábito de fazer compras mensais, mas logo percebi que não iria funcionar. As frutas e verdura comprava semanalmente, mas não acertava as quantidades, então muita coisa acabava estragando - não só o horti, mas também queijos, molhos prontos, iogurtes, e eu precisava colocar no lixo. Levou um tempo até organizar tudo, mas hoje, posso dizer que não jogo nada fora aqui em casa.

    Costumo fazer feira uma vez por semana e como tenho uma rotina alimentar regrada, as quantidades necessárias são praticamente as mesmas. Após as compras, chego em casa, lavo e higienizo tudo com solução de hipoclorito (conforme ensinei em post anterior), enxaguo e deixo os vegetais secando em cima da pia. Depois disso, armazeno tudo em saquinhos com fechamento e coloco na geladeira. Os alimentos que ainda não estão em ponto para consumo ficam na fruteira até amadurecerem.

    Mesmo com cuidado, ainda é possível que alguns alimentos possam levar um tempinho a mais para serem consumidos e acabem passando do ponto. Para evitar que estraguem, adoto algumas estratégias simples que fazem toda a diferença e podem te ajudar também:

  • Planejar as compras: Como já mencionei no início, fazer o planejamento do que será comprado é essencial. Observe quais são os alimentos que você mais utiliza no dia a dia, tente programar quais preparações vão ser executadas na semana após as compras. Além de organizar suas compras, essa atitude contribui para economizar tempo;
  • Calcular as quantidades: Tome como base os momentos anteriores em que você preparou os pratos que está planejando. No caso dos restaurantes, possuir as fichas técnicas será de grande valia para fazer o levantamento das quantidades de cada ingrediente que serão necessárias para executar o cardápio;
  • Congelamento:  Quando muito amadurecidas, algumas frutas podem ser congeladas e bem utilizadas conforme necessidade. Banana, abacaxi, morango, kiwi, mamão, maracujá (polpa) podem ir para congelamento picadas em potinhos e utilizadas posteriormente para sucos e vitaminas. Vegetais como cebola, tomate, tempero verde, funcionam tranquilamente, quando congelados, para elaboração de molhos e pratos quentes.
  • Branqueamento: Essa técnica, além de facilitar as refeições do dia a dia, também permite que alguns alimentos que perdem a qualidade quando conservados por congelamento crus, mantenham o sabor e a textura. O branqueamento consiste em mergulhar o vegetal cru picadinho em água fervente, por 1 a 3 minutos, dependendo do alimento e, logo em seguida, transferi-lo para um recipiente com água gelada por 1 minuto. O choque térmico que ocorre faz um pré-cozimento, otimizando a cor, mantendo os nutrientes, sem deteriorar, e  mesmo após congelados a qualidade se mantém. Aqui em casa eu já fiz com abóbora, cenoura, brócolis e ficaram ótimos. Não faça com chuchu! Chuchu só fica bom preparado na hora do consumo.
    

    Além das estratégias de conservação, é importante voltar a atenção às questões do desperdício de alimentos no Brasil. 20% do que é plantado é perdido em decorrência dos hábitos alimentares e de preparo dos alimentos nos procedimentos domésticos. Não temos a cultura de fazer o aproveitamento integral dos alimentos, com as cascas, talos e sementes, pois não aprendemos como fazer uso dessas partes, que possuem tantos nutrientes quanto às polpas dos frutos. Também vivemos na era do uso indiscriminado de agrotóxicos, que nos faz descartar as partes externas, buscando menor intoxicação do nosso organismo, mas não é possível evitar que os resíduos de pesticidas adentrem os alimentos, pois suas superfícies são porosas.

    Por isso, a melhor escolha é pelos produtos orgânicos ou da safra, que não recebem uma carga tão grande dessas substâncias. Utilizar as partes não convencionais dos alimentos na cozinha reduz a geração de lixo, gera economia e traz diversidade ao cardápio.

    Diversas instituições trabalham em projetos desenvolvendo receitas e criando maneiras  de minimizar o desperdício de alimentos e disponibilizam publicamente os resultados. Trouxe aqui uma receitinha fácil para você experimentar e ver como é possível e gostoso inovar:




REFERÊNCIAS


Aproveitamento integral dos alimentos. Disponível em: <APROVEITAMENTO INTEGRAL DOS ALIMENTOS.pdf (ufra.edu.br)>. Acesso em: 27 dez. 2022.


Agrotóxicos: Uma revisão de suas consequências para a saúde pública. Disponível em: <View of Agrotóxicos: uma revisão de suas consequências para a saúde pública (ufsm.br)>. Acesso em: 27 dez. 2022

Pensando dentro e fora da casca. Disponível em: <Receitas-Mesa-Brasil.pdf (sescrio.org.br)>. Acesso em: 27 dez. 2022.

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